terça-feira, 28 de julho de 2009

Procura-se - Decupagem


Quando chegamos à casa de minha mãe em Pirenópolis, já eram quase 3hs da manhã. Mas tudo bem, a idéia não era começar a trabalhar ainda naquela sexta-feira, muito menos na madrugada de sábado. Fomos dormir com a missão de em dois dias, deixar o roteiro muito mais próximo do verdadeiro potencial que o argumento possibilita.
Essa história de se isolar em uma “casa de campo”, longe de toda a agitação da pré-produção , para decupar o filme e ir mais fundo em cada cena do roteiro, começou com o filme “Brasília – Titulo Provisório” do J.P (meu sócio na Pavirada). O processo, além de ter sido muito prazeroso, fez o roteiro crescer surpreendentemente. A cada nova idéia que tínhamos a impressão era de que aquela solução era tão evidente que só em Piri para enxergarmos.

O mesmo processo depois se repetiu com o “Para Pedir Perdão”. Hoje, é um ritual obrigatório nas produções da Pavirada. E sempre na mesma fase do processo: depois de iniciada a pré e a cerca de duas semanas para filmar. Necessariamente deve ser nessa fase. Acho que não funcionaria tão bem se fizéssemos isso com o roteiro ainda sem data para rodar. Um roteiro precisa estar próximo a sua morte para revelar outras camadas. E por outro lado, se fossemos mais tarde para Piri, talvez a produção não tivesse tempo de realizar as mudanças que seguramente ocorrem nessa nossa “viagem”.

Com o “Procura-se” não foi diferente. Quando sentamos para efetivamente trabalhar, já havíamos modificado o final e algumas cenas do início em nossas conversas descompromissadas na cachoeira na manhã de sábado.
Dessa vez estávamos de acordo em não decupar plano a plano do filme como havíamos feito nas outras ocasiões. O importante era discutir o que era fundamental em cada cena. O que cada personagem estava vivendo. Suas vontades e suas contra-vontades. Dessa vez a câmera estará em função do elenco, da cena. E não o contrário. A cada seqüência discutida, o principal desafio foi encontrar o tom certo do ritmo que queremos impor ao filme. Se por um lado ele exige uma montagem ágil e inspirada na velocidade dos desenhos animados, por outro, é preciso respeitar o tempo da emoção dos personagens. Esse tempo, o da emoção, ainda é o mesmo de sempre. Ainda bem.

Como das outras vezes, fomos entrando na madruga e as idéias foram surgindo. Nós, como sempre, exclamávamos: “Claro, é obvio. Como não pensamos nisso antes?”
Antes não conhecíamos as locações. Não conhecíamos a Bianca, a Bruna, o Pedro e nenhuma das crianças que compõe o elenco do filme. Mas principalmente, porque antes não existia esse frio na barriga da contagem regressiva para o início das filmagens. Antes, não estávamos na deliciosa casinha da Dona Ana.

3 comentários:

  1. Delícia fazer parte dessa história...

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  2. Parece que esse negocio de fazer filmes é mais curtição que ralação. Visto do relato do Iberê essa tarefa foi uma festa.
    Mas não pude acompanhar - "Dessa vez a câmera estará em função do elenco, da cena. E não o contrário." Para onde poderia estar a camera se não para o elenco? Para o quadro, para a paisagem, ou há outras possibilidades que não consigo ver?
    Enfim, que o resultado seja tão prazeroso quando a execução.
    Eustaquio

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  3. A Camera poderia se pensada em função da narrativa, da estética, da métrica inclusive. E os atores estariam marcados e dirigidos em função dela. Mas no Procura-se, não queremos isso. Os atores e sua mise en scenè que ditarão o enquadramento. A Camera que terá marcas em função dos personagens. Enquanto esses estarão livres.
    Agora, toda ralação deveria ser uma curtição.

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