quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Fim de ano agitado

“O dia começou como a maioria desses últimos 23 dias no sul. Acordando num quarto desconhecido e demorando alguns segundos até lembrar que cidade estou. A diferença é que dessa vez o Renato não estava na cama ao lado e a cidade já não era novidade. O despertador do celular tocou antes das 5hs para que eu pudesse chegar em tempo no aeroporto de Florianópolis para pegar um vôo para Brasília.

Desde que saí de Urubicí, nossa 13ª cidade em 23 dias, não consegui estar completamente feliz de estar voltando para casa. Foi inevitável um pouco de tristeza por deixar a equipe seguindo viagem.”

Era assim que começava esse texto, porém a fila para entrar no avião andou rápido e tive que parar de escrever. O texto ficou velho. Como as coisas ficam velhas rápido hoje em dia !!!

Mas retomando de onde parei, ou melhor, 36 horas depois, posso dizer que foi muito bom chegar em casa.

Desde o dia 07 de novembro, estive viajando a trabalho. Passamos por cidades nos estados do Paraná e Santa Catarina. Sem dúvida nenhuma a viajem a trabalho mais interessante, reveladora e divertida que já fiz. Éramos apenas 4 na equipe de vídeo: Eu, Renato Marques, Vagner Jabour e Dico Vilhena. Além de nós, um fotógrafo, que no início foi o David e depois veio o Beto, um assistente, Vagner “Domec”, o motorista João Branco e o produtor Alexandre Nova, o Bahia. Gente fina e competente o Bahia.

Sete machos numa Van a procura de imagens coloridas em um período cinzento do sul do pais.

O número reduzido da equipe, que no início nos assustava um pouco, aos poucos foi se revelando realmente uma estrutura mínima, mas perfeitamente viável e agradável. Talvez para o Renato e para o Vagner o acumulo de funções tenha pegado um pouco, mas acho que eles conseguiram se resolver muito bem.


Começamos em Curitiba. A primeira locação, Aeroporto, já deixou claro que teríamos que tirar “leite de pedra” para sairmos satisfeitos com o resultado de nosso trabalho. Logo no primeiro dia já ficou evidente a garra e a vontade de fazer bem feito de nós quatro. É muito bom trabalhar assim.

Aeroporto, Atlético Paranaense X Goiás, Passeio de trem, Morretes, Paranaguá, Ilha do Mel... As locações foram ficando para trás e nós quatro colecionando histórias para contar. Em Paranaguá foi um barato presenciar o choque de conhecimentos entre o Dico e uns senhores do local. A gente precisava escolher um lugar, a noite, para fazer imagens da Dança dos Fandangos. Uma dança típica da região, dançada ao som

do bater dos pés ao solo, e que precisa ser dançada sobre um tablado de madeira. A prefeitura mandou dois senhores, funcionários, levar e montar o tablado para o grupo que iria se apresentar para nós. Os caras já chegaram irritados e pedindo uma cerveja por estarem trabalhando aquela hora da noite. Até aí normal, entra por um ouvido e sai pelo outro. Mas os caras não acreditaram mesmo quando eu decidi com o Vaguinho o local que queríamos montar o tablado. O cenário e a luz pediam aquela localização, mas foi compreensível a reação do caras, afinal, o tablado precisaria ficar metade em cima da calçada e outra metade na rua. 1º. E os carros?, 2º E o desnível de quase 30 cm? 3º. Não se pode dançar Fandango assim.

Eu já estava quase cedendo e procurando outro local, afinal um grupo de mais de 20 pessoas aguardavam para poder gravar e ir embora. Nessa hora me chega o Dico: - Sr. É aqui que você quer? Eu já conhecendo o Dico, respondo: - Velho, agente está sem nada de cunha, banquetas e ferramentas para fazer isso. O cara só me olhou no olho, se virou para o Senhor que havia chegado com o tablado e perguntou: - Quantas peças são ? Qual o tamanho de cada uma ?

Nessa altura a rua já estava isolada pela polícia local a pedido do Renato.

O senhor, por nem conceber a existência de uma solução para o caso, resistia em responder objetivamente as perguntas do Dico. Mas com muita determinação ele foi conseguindo as respostas e as idéias e soluções pareciam ir alimentando-o de energia e força de trabalho.

Outros senhores de idade, cheios de sua própria sabedoria, aos poucos foram se reunindo em volta do Dico e iam questionando, dando palpites. – Tenha calma e se controle senhor que já

verás, respondia o Dico sem parar de escorar peça por peça. No final estavam todos atendendo a suas orientações e em 20 minutos o tablado de aproximadamente 4 x 3 mts estava montado no local escolhido, escorado com pedaços de madeira, pedras, ferramentas e garras. Esse é o Dico. É muito bom conviver e trabalhar com um cara assim. Ele contagia a toda equipe. No meu último dia com a equipe, presenciei o Dico e o Vaguinho quebrando a cabeça para prender o Aqua-Bag de forma que ficasse estendido na Van para que ele pudesse secar antes que necessitássemos dele. 15 minutos e dois elásticos foram necessários para que eles colocassem o case pendurado e com a boca virada para a janela para tomar vento. Pronto, mas um desafio vencido. Vencer desafio por desafio. Acho que esse é o segredo de uma viagem como essa. Pelo menos era assim que eu via os dias posteriores a uma cervejada daquelas. As vezes parávamos de beber 2 horas antes do horário combinado de iniciar o dia. Na maioria das vezes conseguimos trabalhar bravamente, nas outras vezes fomos ajudados por São Pedro que inviabilizava a pauta e nos permitia dormir um pouco mais. Duas dessas vezes eu realmente não sei o que seria de nós se o tempo tivesse amanhecido aberto. Ufa...Mas nada disso, nem o tempo e nem nossas “folgas” noturnas atrasaram o cronograma.

Como disse antes, a equipe era boa demais e estava preparada para a guerra.


Eu já havia trabalhado com cada um dessa equipe; já havia viajado dirigindo um trabalho como esse; já havia ficado mais de 20 dias na estrada. Mas dessa vez duas diferenças foram fundamentais: 1º. Estava viajando com meu parceiro e irmão Renato, 2º. Alem de diretor eu estava representando a Pavirada. Eu era também um empresa que havia sido contratada e que havia contratado.

Esse segundo fator exigiu de mim uma postura firme, corajosa muitas das vezes e de maior responsabilidade. Eu não era somente um Freela. Ainda bem que eu estava com o Renato. Porque além de ser “o cara”, ele dividiu essa responsa comigo o tempo todo. Na real assumiu boa parte dela o tempo todo. Numa postura super guerreira e que demonstra como o Renato está maduro como empresário, produtor executivo e produtor de set. Em pensar que chegaram a questionar a presença dele nessa viagem. A meu ver impossível.

Mas toda essa minha babação com a equipe não fica apenas na área profissional. A convivência foi sem dúvida determinante. Parecíamos 4 muleques de 15 anos, falando merda e brincando o tempo todo. As vezes a Van ficavam em silêncio por alguns minutos, até que o Dico soltava: - O Branco, qual nome do filhote de Quero-Quero com Pica-Pau ? Pronto, a gargalhada tomava conta do espaço.


Nesse clima o Branco foi peça fundamental. Com humor e inteligência para discernir o que era uma brincadeira e com uma língua afiada, o Branco conquistou o carisma de todos rapidamente. Atencioso era o mais solidário aos problemas de cada um. Branco era o pai do grupo, ou melhor a mãezona. E um grupo com uma mãe dessa você já imagina a loucura.

Enfim, foram muitos dias, muitas histórias, que eu teria que ter feito como o Renato e escrever relatar o dia-a-dia, afinal é assim que funciona um blog né!?

Como não o fiz, me contento em deixar aqui esse relato e um grande abraço para galera, que agora com o JP, continua o trampo até alcançar Porto Alegre.

Depois de amanha embarco para Cuba acompanhando o PPP. Vai ser incrível, tenho certeza. Até porque também estarei super bem acompanhado. Vou eu, Fernanda, Marcus Vinícius e Ju Drumont.

Vou estar quase por inteiro no Festival, porque uma parte estará acompanhando o Blog do Renato (www.renatotmta.blogspot.com) e a outra parte estará que nem um louco tentando acompanhar a última rodada do Brasileirão que pode dar ao MENGÃO o hexacampeonato. É muita emoção para um fim de ano.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Muito mais que o racional

Desde que as filmagens do Procura-se começaram eu não tive tempo, nem cabeça e nem corpo para escrever sobre o processo. Hoje faço um esforço mesmo sabendo que será impossível descrever tudo que senti e que passamos nesses 10 dias.
Quando pensamos o plano de filmagens, ele era de 9 diárias. Prevíamos um cronograma tranquilo, que não exigisse muito das crianças e que nos permitisse dar uma atenção cuidadosa à direção do elenco. Mas a real é que estávamos completamente enganados. Nossas diárias tem sido longas e cansativas.
Um pouco por termos na maioria das vezes 13 crianças no set, por termos cachorro cavalo e muito por estarmos trabalhando com a RED, que apesar da inquestionável qualidade das imagens que gera, exige um bom tempo de montagem, preparo e set ups.
Depois do terceiro dia de filmagem eu estava com a sensação de que não sabia mais que filme estava fazendo. O próprio filme estava se fazendo e o roteiro inicial estava ficando tão distante que me sentia totalmente perdido. Claro que como diretor não podia desmonstrar isso à minha equipe e muito menos à garotada. Mas acho que falhei nessa missão. Em vários momentos me ví estressado e bringando com as pessoas que mais quero e admiro da equipe. A ansiedade e nervosismo me cegavam e minha atitude só piorava tudo. Voltava para casa com falta de ar e me sentindo o pior diretor possível.
Foi então que resolvi visionar o copião para, no mínimo, entender que "novo" filme era esse e quem sabe retomar o estilo de trabalho que acredito.
Foi a melhor coisa que fiz. Me deparei com um material lindo, envolvente e cheio de carisma. Sobretudo as cenas com a Bianca Terraza e com a Bruninha Cobello. As duas pequenas atrizes estão dando um show na pele de Camile e Didi, respectivamente.
Fui para o quarto dia mais tranquilo, confiante e otimista com o resultado. Foi então que começaram as cenas mais complicadas com o JouJou, o lindo cãozinho da raça Welsh Corgi Pembroke. O JouJou é um cachorro dócil, inteligente e carismático, mas não gosta de calor e muito menos da secura típica de Brasília no mês de agosto. Tivemos que adaptar algumas ações previstas no roteiro. A cada nova adaptação a sensação de estar fazendo um rascunho do filme sonhado. Na verdade acho que em qualquer filme o processo é assim. Alguns mais, outros menos. Nesse a realidade fazia questão de se impor todos os dias.
Ao final do sexto dia, já sabíamos que mesmo com todos esses complicadores conseguimos atingir uma média de 50 minutos por plano. Uma produtividade boa, mas que passou a exigir de mim uma decupagem compatível com essa média.
Foi então que começaram as inacreditáveis chuvas em pleno mês de agosto em Brasília. Acho que nunca havia vivenciado aflição maior. Se estivéssemos no início das filmagens, talves fosse mais fácil administrar um novo plano. Mas agora no fim tínhamos o cachorro que ia embora, o GOG que iniciará uma turnê, Murilo Grossi com a agenda comprometida e Similião Aurélio em cartaz no Rio. Um beco sem saída. Num determinado momento eu cheguei a pensar que não terminaríamos o filme. No oitavo dia, estávamos filmando na Vila Planalto e começou uma chuva torrencial. Já era o segundo dia seguido de chuva. Não rodar a cena prevista significaria correr o risco de não contar a história. A opinião de todos da equipe era de que não seria mais possível continuar. Fui para de baixo da chuva pensando: "Molha, quer molhar então molha, mas depois deixa eu continuar a filmar por favor". Nessa hora meu pai me ligou preocupado. Já havia consultado as previsões metereológicas e se colocou a disposição para ajudar no que fosse necessário. Mal desliguei foi a vez de minha mãe. A preocupação e carinho dos dois me emocionou e toda afliçao e estress que eu estava sentindo todos esses dias se transformaram em choro. Chorei igual uma criança. Naquele momento achei boa a privacidade que a chuva me permitia. Não queria chorar na frente da equipe e muito menos das crianças. A chuva acabou passando junto com o choro, ou será que foi o contrário? Não sei. Mas conseguimos terminar o dia e concluir a sequência 18. Ufa. (Depois fiquei sabendo que na van, as crianças rezavam para que a chuva passasse)
Quando minha mãe me pediu para que tentasse ficar calmo e não me estressar muito, minhas justificativas para meu estado foram todas racionais: custo do filme, contrato com o MINC, portifólio, responsabilidade junto à equipe..enfim. Mas a verdade é que criar envolve muito mais que o racional. Teve um dia durante as filmagens que nua brincadeira com a Bianca (protagonista do filme), ela me perguntou se eu jurava pela minha vida. Eu respondi que sim. Ela não ficou satisfeita e achou que minha vida não era nenhuma garantia de que eu falava a verdade, então ela perguntou de novo: Você jura pelo filme?
Acho que mesmo me isolando para chorar, não consegui esconder o que esse filme siginifica para mim. Pelo menos não para a Bianca.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Procura-se - Decupagem


Quando chegamos à casa de minha mãe em Pirenópolis, já eram quase 3hs da manhã. Mas tudo bem, a idéia não era começar a trabalhar ainda naquela sexta-feira, muito menos na madrugada de sábado. Fomos dormir com a missão de em dois dias, deixar o roteiro muito mais próximo do verdadeiro potencial que o argumento possibilita.
Essa história de se isolar em uma “casa de campo”, longe de toda a agitação da pré-produção , para decupar o filme e ir mais fundo em cada cena do roteiro, começou com o filme “Brasília – Titulo Provisório” do J.P (meu sócio na Pavirada). O processo, além de ter sido muito prazeroso, fez o roteiro crescer surpreendentemente. A cada nova idéia que tínhamos a impressão era de que aquela solução era tão evidente que só em Piri para enxergarmos.

O mesmo processo depois se repetiu com o “Para Pedir Perdão”. Hoje, é um ritual obrigatório nas produções da Pavirada. E sempre na mesma fase do processo: depois de iniciada a pré e a cerca de duas semanas para filmar. Necessariamente deve ser nessa fase. Acho que não funcionaria tão bem se fizéssemos isso com o roteiro ainda sem data para rodar. Um roteiro precisa estar próximo a sua morte para revelar outras camadas. E por outro lado, se fossemos mais tarde para Piri, talvez a produção não tivesse tempo de realizar as mudanças que seguramente ocorrem nessa nossa “viagem”.

Com o “Procura-se” não foi diferente. Quando sentamos para efetivamente trabalhar, já havíamos modificado o final e algumas cenas do início em nossas conversas descompromissadas na cachoeira na manhã de sábado.
Dessa vez estávamos de acordo em não decupar plano a plano do filme como havíamos feito nas outras ocasiões. O importante era discutir o que era fundamental em cada cena. O que cada personagem estava vivendo. Suas vontades e suas contra-vontades. Dessa vez a câmera estará em função do elenco, da cena. E não o contrário. A cada seqüência discutida, o principal desafio foi encontrar o tom certo do ritmo que queremos impor ao filme. Se por um lado ele exige uma montagem ágil e inspirada na velocidade dos desenhos animados, por outro, é preciso respeitar o tempo da emoção dos personagens. Esse tempo, o da emoção, ainda é o mesmo de sempre. Ainda bem.

Como das outras vezes, fomos entrando na madruga e as idéias foram surgindo. Nós, como sempre, exclamávamos: “Claro, é obvio. Como não pensamos nisso antes?”
Antes não conhecíamos as locações. Não conhecíamos a Bianca, a Bruna, o Pedro e nenhuma das crianças que compõe o elenco do filme. Mas principalmente, porque antes não existia esse frio na barriga da contagem regressiva para o início das filmagens. Antes, não estávamos na deliciosa casinha da Dona Ana.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Procura-se - Elenco mirim


Quando o roteiro foi premiado no concurso do Minc, a primeira coisa que me veio a cabeça foi: “- Caramba, crianças e cachorro. Tô frito”. Já li mais de uma vez em livros de entrevistas com diretores consagrados, que as duas tarefas mais difíceis de um diretor são justamente dirigir cenas com animais e com crianças. Sendo a segunda uma missão mais complicada do que a primeira.

Hoje a tarde, eu constatei que apesar de muito difícil e complicado, também pode ser uma das experiências mais ricas que se pode ter. O trabalho com o nosso elenco mirim começou em abril com um teste envolvendo cerca de 300 crianças. Em sua maioria, crianças que não haviam tido nenhuma experiência com teatro ou cinema. Eu particularmente nunca acreditei muito no processo de testes para escolher um elenco(acho pouco eficaz), mas nesse caso servia muito mais para que eu pudesse ir testando minhas convicções e concepções sobre os personagens do que para “testar” a capacidade das crianças que participaram.

Ao final dessa fase tínhamos mais de 10 horas de crianças registradas. A escolha não foi fácil. Mas fizemos uma seleção de 30 crianças que de alguma forma nos encantou. Seja pelo carisma, pela proximidade com o personagem ou pelo olhar. É tudo muito intuitivo e necessariamente deve ser assim. Essas eu fiz questão de conhecer pessoalmente. Fizemos um novo teste procurando ver se aquela criança tinha uma boa imaginação, se respeitava marcas e se iria com minha cara. As que nos surpreenderam ficaram no filme. É preciso imaginação para trabalhar com cinema.

Hoje, quase 1 mês depois de termos decidido quem fará o filme, realizamos o nosso sexto encontro da oficina que a Fernanda Rocha (preparadora do elenco) está realizando com as crianças. A oficina acontece pelas tardes na Escola Classe 18 de Taguatinga.

Durante essa última semana das férias escolares nos encontramos todos os dias das 15h às 17hs com a Bianca, a Bruna, Camila, Pedrinho, Bruno, Vinícius, Iara, Alexandre, Alan, Guilherme e João.

É impressionante como em pouco tempo conseguimos criar um grupo unido e coeso. Essa era nossa principal preocupação para essa primeira fase. Com o grupo formado e papeis definidos, partimos para a fase de traze-los para dentro da história que queremos contar.

Foi aí que surgiu a idéia de fazer um trabalho de mesa com leitura do roteiro. Coisa muito comum em um processo de preparação para um filme. Mas nesse caso estamos trabalhando com crianças de 5 a 12 anos de idade. Será que elas vão prestar atenção? Será que vão entender a narrativa de um roteiro? Será que eles não vão ficar inquietos e impacientes? Será que o Pedrinho (5 anos) vai acompanhar?

Resolvemos tentar. Juntamos as carteiras de colégio formando uma comprida mesa. As onze crianças mais eu e Nanda sentamos a sua volta. Estavam todos visivelmente excitados. Finalmente conheceriam a história do filme. Eu falei sobre cada personagem como falaria com qualquer ator adulto. Eles ouviram com a atenção e a curiosidade de uma criança.

Eu lia as descrições de cena, enquanto cada um lia os diálogos de seus personagem. Vinícius me ajudou lendo os cabeçalhos de cena.

A cada nova cena lida, um dos meninos se colocava de joelhos na cadeira para prestar ainda mais atenção à história.

Eles participaram como se assistissem ao filme nas folhas do roteiro, sem imaginar que a “cena” mais bonita que qualquer uma das que estavam ali escritas, estava acontecendo naquela sala, em volta daquelas carteiras. (ô inveja do making of)

No final a Nanda fez um exercício onde eles, em conjunto, formavam uma “fotografia” de uma das cenas do roteiro. Foi a constatação de que eles haviam visualizado todo o filme. Foi lindo.

A próxima meta agora é encontrar verdadeiramente cada personagem. Sobretudo emocionalmente. Ou seja, nosso desafio com eles está apenas começando, mas já deu para sentir que vai ter valido a pena, independente de “sucesso”. (seja lá o que isso signifique)

Que venha o Boris. O cachorrinho do filme.

sábado, 18 de julho de 2009

Procura-se – Locações

Procura-se – Locações

Na sexta-feira o Fernando (produtor de locação) nos levou (Eu e Fernanda Rocha – Assist. de Direção) para conhecer um campinho de futebol na Vila Planalto. A primeira coisa que me chamou a atenção quando chegamos foi o tamanho. Ele é exageradamente maior do que seria o ideal para construirmos a cena. Tirei algumas fotos tentado eliminar o excedente, mas procurando não tirar o encantamento que a Camille precisa encontrar. Um senhor passa por mim e com toda simpatia pede para ver a foto. Cabelos grisalhos, baixo e forte apesar da idade, usava calça de linho sem camisa. Estava acompanhado de um amigo mais novo. Esse ficou de longe olhando. Apesar da educação e simpatia, fiquei intrigado, pensando que ELE pudesse estar intrigado com aqueles três forasteiros tirando fotos da região. Mas ele viu a foto, fez uma brincadeirinha com a Nanda e partiu com o mesmo jeito tranqüilo que com muito pouco consegue transparecer poder.
O campinho da Vila Planalto é o único dos que vi até agora que possui algumas características que procuramos:
1. Está rodeado de casas e comércios como se fosse uma praça. Não possui um estabelecimento que possa se transformar no negócio do vilão, mas possui uma feirinha que torna super férteis as possibilidades para o personagem do Roque;
2. É de terra vermelha. E nesse caso a locação ainda nos surpreendeu por possuir um gramado nas laterais que tenta persistir apesar da seca e continua com um verde bem bonito que pode ajudar a compor o fotografia com o vermelho da terra e o céu azul. (resta saber se o verdinho continuará daqui a 1 mês);
3. Possui uma rota de fuga para Camille. Lá encontramos a casa de Zé Ramalho. Coincidências à parte, trata-se daquele mesmo senhor que nos abordou anteriormente. Zé Ramalho vive ali faz muito tempo. Na porta de sua casa, muito simples, possui um punhado de geladeiras, TVs e outros eletros-domésticos usados que estão à venda. De certa forma ele tem uma profissão semelhante a dos pais de Didi e Gugu. Bom sinal.
A idéia é que Camille, ao fugir do Roque, entre pela portão da frente da casa de Zé (que esta sempre aberta) e correndo, chegue até a cozinha. Sem graça pela invasão, ela vira num corredor (que mais parece um beco) e sai pelo quintal da casa.

O lado negativo da locação é que ela não proporciona o contraste que eu desejo entre a Camille e o ambiente. Os muleques do Procura-se poderiam muito bem viver na Vila Planalto, pois lá é possível encontrar praticamente TODAS as classes sociais dividindo a mesma rua. Mas por outro lado uma menina como a Camille andando de bicicleta ali, não chega a ser uma imagem surpreendente. E isso é um problema sério a ser superado.

Outro problema da locação (Vila Planalto) é que as duas seqüências de perseguição nao podem ser realizadas lá. A solução encontrada é filma-la em outro local e na montagem dar a continuidade necessária.

Camille entra na casa de Zé Ramalho na Vila e sai no Varjão. (Tenho certeza que ninguém notaria a mágica, a não ser o próprio Zé e seus vizinhos.)

No Varjão o Fernando encontrou os fundos de um conjunto habitacional. São vários sobrados, colados pelas costas que fazem um conjunto de pequenas construções coloridas e que poderiam estar na vizinhança do campinho de futebol É possível construir uma ágil seqüência de perseguição ali, inclusive com alguns obstáculos tanto para a menina, como para os malvados, mas ainda está difícil tirar da minha cabeça o tipo de ruelas que vejo quando imagino o filme. A locação do Varjão é mais larga e um pouco repetitiva, como todos conjuntos habitacionais costumam ser.

Essas duas locações não possuem a miséria que encontramos nas visitas à estrutural, Itapoã, Samambaia, Paranoá e até Brazlandia. O que é bom para que o filme não fique muito chocante e antecipe problemas complexos que não sejam possíveis de abordar de forma satisfatoria em um curta de 13 minutos. Mas por outro lado elas diminuem a força da jornada da Camille à um mundo totalmente distante de sua realidade.

Decisão crucial e muito difícil que vai pautar todo o filme. E o que é pior, URGENTE.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael Jackson e o pé-de-goiaba.


Esse espaço já existe há algum tempo, mas só hoje tomei coragem para estreá-lo. A vontade de escrever não surgiu só agora, mas hoje a cabeça não pára, o coração esta apertado e o sono ainda não chegou.
Eu comecei a noite angustiado na frente do computador, necessitando criar imagens para o próximo trabalho comercial. Mas nada saía. A criatividade é igual ao tempo. Você só vivencia ela estando presente. E eu não estava. Resolvi ir caminhar. Suar a ansiedade por estar dirigindo um comercial com o Ronaldo “Fenômeno”.
Com capuz na cabeça para esconder os fones, resolvi caminhar rumo ao final da Asa Norte para voltar à locação da cena inicial do PPP(meu curta "Para Pedir Perdão"). Minha idéia não era correr contra os carros, mas talvez também estivesse procurando a minha “Elisa”. Quando eu cheguei na altura da 410 norte não senti a nostalgia que imaginava que sentiria. Não senti o cheiro daquele dia, nem o clima, nem nada. Como se minha fome pelo tempo precisasse ir um pouco mais além. Alguns passos a mais e o bloco F da 410 foi chamando minha atenção. Não foi a toa que filmei ali. Morei dos meus 6 aos 9 anos de idade no apartamento 106 daquele bloco. Não resisti e fui caminhar embaixo dele. Parecia menor, claro. Sentados em baixo do bloco, um casal namorava. Provavelmente estudantes do noturno do antigo CAN. O rapaz ficou um pouco intrigado com a presença de um cara de preto, com capuz e nitidamente sem rumo certo. Meu caminhar denunciava que eu estava apenas observando. Atitude no mínimo suspeita nos dias de hoje. Apesar de incomodado com o medo do rapaz, eu avançava. O cheiro das brincadeiras de polícia e ladrão ia ficando visível. Me vi no estacionamento caminhando sonolento para a Belina de minha mãe que me levava para a escola. As lembranças foram unindo a cabeça ao corpo. Quando constatei que a goiabeira em que passávamos boa parte de nossas tardes não existe mais, bateu uma certeza pontiaguda de que o tempo realmente não volta. Aqueles anos da infância, no início dos anos 80, não voltariam jamais. A música é interrompida pelo toque do celular. Uma colega de trabalho precisava tirar uma dúvida. Sua voz está estranha. Penso que talvez sempre estivesse e que só agora eu a tenha escutado de verdade, por isso nem me atrevo a perguntar e me atenho ao prático. Mas ela corta o assunto e me diz completamente atônita que Michael Jackson está morto. Na hora senti o mesmo que havia sentido quando vi que a goiabeira não existe mais. Mas agora com muito mais intensidade. Desliguei o telefone e resolvi caminhar de volta para casa. Como pode o Michael Jackson morrer? E agora? Me perguntava como se o cara fizesse realmente parte da minha vida. É bem verdade que recentemente havia redescoberto sua música (nas festas MAKOSSA do amigo Léo) e justamente agora estava escutando Michael com alguma freqüência,(claro que suas músicas antigas, do tempo que ele ainda criava e eu ainda subia em pé-de-goiaba) mas eu estou longe de ser um fã.
Talvez eu esteja sentido a morte de uma época, de uma cultura, de um símbolo.
Aquele Michael que encantou o mundo já morreu faz tempo. Foi se matando aos poucos. Ele tinha horror de sua auto imagem. Seu mais famoso clipe, Thriller, parece nos mostrar como Michael se via. A fortuna e a tecnologia possibilitaram que ele fugisse de si mesmo e de seu passado. Tentou se transformar naquilo que a indústria cultural americana sempre vendeu como belo, mas acabou com uma imagem muito parecida com a dos mortos-vivos de Thriller. Que pena.

Ainda bem que o que ficará é essa vontade incontrolável de se mexer, de dançar, de malhar, de correr...ou de tudo ao mesmo tempo, que dá na gente quando se escuta uma de suas músicas. Não tem como ouvir Billie Jean, por exemplo, e não ficar pelo menos marcando o compasso com os pés...

E a vida é isso: movimento.

Voltei para casa um tanto mexido e me obriguei a estrear meu blog. Pensei comigo: Ser for para deixa-lo parado, não faz sentido. Talvez tenha sido essa a conclusão do coração de Michael.

Vale a pena rever Thriller:

http://www.youtube.com/watch?v=hOj5H5W9zYo&NR=1

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

tá aí...meu primeiro blog.

Textos, reflexões, talvez você tambem encontre fotos. Sem nenhuma pretensão, apenas para manter viva essa necessidade de me expressar e exercitar a capacidade de descrição de alguns momentos vividos.