quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael Jackson e o pé-de-goiaba.


Esse espaço já existe há algum tempo, mas só hoje tomei coragem para estreá-lo. A vontade de escrever não surgiu só agora, mas hoje a cabeça não pára, o coração esta apertado e o sono ainda não chegou.
Eu comecei a noite angustiado na frente do computador, necessitando criar imagens para o próximo trabalho comercial. Mas nada saía. A criatividade é igual ao tempo. Você só vivencia ela estando presente. E eu não estava. Resolvi ir caminhar. Suar a ansiedade por estar dirigindo um comercial com o Ronaldo “Fenômeno”.
Com capuz na cabeça para esconder os fones, resolvi caminhar rumo ao final da Asa Norte para voltar à locação da cena inicial do PPP(meu curta "Para Pedir Perdão"). Minha idéia não era correr contra os carros, mas talvez também estivesse procurando a minha “Elisa”. Quando eu cheguei na altura da 410 norte não senti a nostalgia que imaginava que sentiria. Não senti o cheiro daquele dia, nem o clima, nem nada. Como se minha fome pelo tempo precisasse ir um pouco mais além. Alguns passos a mais e o bloco F da 410 foi chamando minha atenção. Não foi a toa que filmei ali. Morei dos meus 6 aos 9 anos de idade no apartamento 106 daquele bloco. Não resisti e fui caminhar embaixo dele. Parecia menor, claro. Sentados em baixo do bloco, um casal namorava. Provavelmente estudantes do noturno do antigo CAN. O rapaz ficou um pouco intrigado com a presença de um cara de preto, com capuz e nitidamente sem rumo certo. Meu caminhar denunciava que eu estava apenas observando. Atitude no mínimo suspeita nos dias de hoje. Apesar de incomodado com o medo do rapaz, eu avançava. O cheiro das brincadeiras de polícia e ladrão ia ficando visível. Me vi no estacionamento caminhando sonolento para a Belina de minha mãe que me levava para a escola. As lembranças foram unindo a cabeça ao corpo. Quando constatei que a goiabeira em que passávamos boa parte de nossas tardes não existe mais, bateu uma certeza pontiaguda de que o tempo realmente não volta. Aqueles anos da infância, no início dos anos 80, não voltariam jamais. A música é interrompida pelo toque do celular. Uma colega de trabalho precisava tirar uma dúvida. Sua voz está estranha. Penso que talvez sempre estivesse e que só agora eu a tenha escutado de verdade, por isso nem me atrevo a perguntar e me atenho ao prático. Mas ela corta o assunto e me diz completamente atônita que Michael Jackson está morto. Na hora senti o mesmo que havia sentido quando vi que a goiabeira não existe mais. Mas agora com muito mais intensidade. Desliguei o telefone e resolvi caminhar de volta para casa. Como pode o Michael Jackson morrer? E agora? Me perguntava como se o cara fizesse realmente parte da minha vida. É bem verdade que recentemente havia redescoberto sua música (nas festas MAKOSSA do amigo Léo) e justamente agora estava escutando Michael com alguma freqüência,(claro que suas músicas antigas, do tempo que ele ainda criava e eu ainda subia em pé-de-goiaba) mas eu estou longe de ser um fã.
Talvez eu esteja sentido a morte de uma época, de uma cultura, de um símbolo.
Aquele Michael que encantou o mundo já morreu faz tempo. Foi se matando aos poucos. Ele tinha horror de sua auto imagem. Seu mais famoso clipe, Thriller, parece nos mostrar como Michael se via. A fortuna e a tecnologia possibilitaram que ele fugisse de si mesmo e de seu passado. Tentou se transformar naquilo que a indústria cultural americana sempre vendeu como belo, mas acabou com uma imagem muito parecida com a dos mortos-vivos de Thriller. Que pena.

Ainda bem que o que ficará é essa vontade incontrolável de se mexer, de dançar, de malhar, de correr...ou de tudo ao mesmo tempo, que dá na gente quando se escuta uma de suas músicas. Não tem como ouvir Billie Jean, por exemplo, e não ficar pelo menos marcando o compasso com os pés...

E a vida é isso: movimento.

Voltei para casa um tanto mexido e me obriguei a estrear meu blog. Pensei comigo: Ser for para deixa-lo parado, não faz sentido. Talvez tenha sido essa a conclusão do coração de Michael.

Vale a pena rever Thriller:

http://www.youtube.com/watch?v=hOj5H5W9zYo&NR=1

6 comentários:

  1. Ainda bem que começou a escrever por aqui hoje... logo no primeiro dia que visitei. A madrugada está estranha e nada melhor que ler um blog recém inaugurado. Me encantou a sua goiabeira, o tempo que passa, o ícone que morre. Ainda bem que as lembranças sobram, né?

    Sucesso por aqui.

    um beijo de uma blogueira antiga

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  2. Oi Iberê,
    Adorei. Não sei se lembro da goiabeira, era uma na ponta do bloco? Me lembro mais da florzinha roxa embaixo da nossa janela da sala. Janela, aliás, que espalhava o som das nossas festinhas em que as músicas do Michael Jackson eram repetidas, repetidas e repetidas até a vizinhança reclamar. Ainda bem que morávamos no 1o andar ou a coreografia de Thriller iria causar bem mais reclamação. Foi-se o ídolo mas ficou a obra. Tomara que lembrem dele bem mais pelas suas músicas e danças que pelas bizarrices que cometeu. Fiquei triste... mas como você bem disse, aquele Michael ja´ morreu há muito tempo.
    Beijão,
    Natacha

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  3. Fala bro!!! Me senti um tanto comovido com seu artigo!!!! Muito bom, a vida é movimento, e por isso a Makossa estará sempre presente para movimentar o esqueleto e curtir a boa música.... Grande abraço!!!

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  4. que maravilha.
    e lendo as voltas pelas quadras da asa norte, me bateu aqui a morte da minha goiabeira moradora relâmpago de brasilia...
    dias, ao menos, que passaram mas criaram um vínculo que é pra frente, pra novos dias.
    movimento, perere.
    escrever ajuda, rs... não guarda os textos não. bota aqui que é bom compartilhar!
    beijocas da cunha!

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  5. Querido... lendo sua primeira postagem do blog revivi com você a 410, o bloco F e a goiabeira.... fiquei triste e chocada com a noticia que ela não existe mais.... me lembro das nossas muitas tardes lá, lembro da Belina....rs ... deu um revival forte! Tenho ido muito a Brasilia e sempre me lembro daquela época, é uma volta a uma época d anossa vida, talvez a mais bonita delas, nossa infância! E a gente realmente fez histórias e amizades fortes ali, foi bacna... mas como vc disse a vida é movimento! Tenho dito esta mesma frase há um tempo.....ó espero que possa encontrar outros tão bons amigos e período na minha vida como aqueles! E viva o Michael Jackson que como a Natcha disse já morreu há um tempo! Beijão!

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  6. oi Ibere eu amei o trailer voce é um ótimo diretor e amigo também!

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