“O dia começou como a maioria desses últimos 23 dias no sul. Acordando num quarto desconhecido e demorando alguns segundos até lembrar que cidade estou. A diferença é que dessa vez o Renato não estava na cama ao lado e a cidade já não era novidade. O despertador do celular tocou antes das 5hs para que eu pudesse chegar em tempo no aeroporto de Florianópolis para pegar um vôo para Brasília.
Desde que saí de Urubicí, nossa 13ª cidade em 23 dias, não consegui estar completamente feliz de estar voltando para casa. Foi inevitável um pouco de tristeza por deixar a equipe seguindo viagem.”
Era assim que começava esse texto, porém a fila para entrar no avião andou rápido e tive que parar de escrever. O texto ficou velho. Como as coisas ficam velhas rápido hoje em dia !!!
Mas retomando de onde parei, ou melhor, 36 horas depois, posso dizer que foi muito bom chegar em casa.
Desde o dia 07 de novembro, estive viajando a trabalho. Passamos por cidades nos estados do Paraná e Santa Catarina. Sem dúvida nenhuma a viajem a trabalho mais interessante, reveladora e divertida que já fiz. Éramos apenas 4 na equipe de vídeo: Eu, Renato Marques, Vagner Jabour e Dico Vilhena. Além de nós, um fotógrafo, que no início foi o David e depois veio o Beto, um assistente, Vagner “Domec”, o motorista João Branco e o produtor Alexandre Nova, o Bahia. Gente fina e competente o Bahia.
Sete machos numa Van a procura de imagens coloridas em um período cinzento do sul do pais.
O número reduzido da equipe, que no início nos assustava um pouco, aos poucos foi se revelando realmente uma estrutura mínima, mas perfeitamente viável e agradável. Talvez para o Renato e para o Vagner o acumulo de funções tenha pegado um pouco, mas acho que eles conseguiram se resolver muito bem.
Começamos em Curitiba. A primeira locação, Aeroporto, já deixou claro que teríamos que tirar “leite de pedra” para sairmos satisfeitos com o resultado de nosso trabalho. Logo no primeiro dia já ficou evidente a garra e a vontade de fazer bem feito de nós quatro. É muito bom trabalhar assim.
Aeroporto, Atlético Paranaense X Goiás, Passeio de trem, Morretes, Paranaguá, Ilha do Mel... As locações foram ficando para trás e nós quatro colecionando histórias para contar. Em Paranaguá foi um barato presenciar o choque de conhecimentos entre o Dico e uns senhores do local. A gente precisava escolher um lugar, a noite, para fazer imagens da Dança dos Fandangos. Uma dança típica da região, dançada ao som
do bater dos pés ao solo, e que precisa ser dançada sobre um tablado de madeira. A prefeitura mandou dois senhores, funcionários, levar e montar o tablado para o grupo que iria se apresentar para nós. Os caras já chegaram irritados e pedindo uma cerveja por estarem trabalhando aquela hora da noite. Até aí normal, entra por um ouvido e sai pelo outro. Mas os caras não acreditaram mesmo quando eu decidi com o Vaguinho o local que queríamos montar o tablado. O cenário e a luz pediam aquela localização, mas foi compreensível a reação do caras, afinal, o tablado precisaria ficar metade em cima da calçada e outra metade na rua. 1º. E os carros?, 2º E o desnível de quase 30 cm? 3º. Não se pode dançar Fandango assim.
Eu já estava quase cedendo e procurando outro local, afinal um grupo de mais de 20 pessoas aguardavam para poder gravar e ir embora. Nessa hora me chega o Dico: - Sr. É aqui que você quer? Eu já conhecendo o Dico, respondo: - Velho, agente está sem nada de cunha, banquetas e ferramentas para fazer isso. O cara só me olhou no olho, se virou para o Senhor que havia chegado com o tablado e perguntou: - Quantas peças são ? Qual o tamanho de cada uma ?
Nessa altura a rua já estava isolada pela polícia local a pedido do Renato.
O senhor, por nem conceber a existência de uma solução para o caso, resistia em responder objetivamente as perguntas do Dico. Mas com muita determinação ele foi conseguindo as respostas e as idéias e soluções pareciam ir alimentando-o de energia e força de trabalho.
Outros senhores de idade, cheios de sua própria sabedoria, aos poucos foram se reunindo em volta do Dico e iam questionando, dando palpites. – Tenha calma e se controle senhor que já
verás, respondia o Dico sem parar de escorar peça por peça. No final estavam todos atendendo a suas orientações e em 20 minutos o tablado de aproximadamente 4 x 3 mts estava montado no local escolhido, escorado com pedaços de madeira, pedras, ferramentas e garras. Esse é o Dico. É muito bom conviver e trabalhar com um cara assim. Ele contagia a toda equipe. No meu último dia com a equipe, presenciei o Dico e o Vaguinho quebrando a cabeça para prender o Aqua-Bag de forma que ficasse estendido na Van para que ele pudesse secar antes que necessitássemos dele. 15 minutos e dois elásticos foram necessários para que eles colocassem o case pendurado e com a boca virada para a janela para tomar vento. Pronto, mas um desafio vencido. Vencer desafio por desafio. Acho que esse é o segredo de uma viagem como essa. Pelo menos era assim que eu via os dias posteriores a uma cervejada daquelas. As vezes parávamos de beber 2 horas antes do horário combinado de iniciar o dia. Na maioria das vezes conseguimos trabalhar bravamente, nas outras vezes fomos ajudados por São Pedro que inviabilizava a pauta e nos permitia dormir um pouco mais. Duas dessas vezes eu realmente não sei o que seria de nós se o tempo tivesse amanhecido aberto. Ufa...Mas nada disso, nem o tempo e nem nossas “folgas” noturnas atrasaram o cronograma.
Como disse antes, a equipe era boa demais e estava preparada para a guerra.
Eu já havia trabalhado com cada um dessa equipe; já havia viajado dirigindo um trabalho como esse; já havia ficado mais de 20 dias na estrada. Mas dessa vez duas diferenças foram fundamentais: 1º. Estava viajando com meu parceiro e irmão Renato, 2º. Alem de diretor eu estava representando a Pavirada. Eu era também um empresa que havia sido contratada e que havia contratado.
Esse segundo fator exigiu de mim uma postura firme, corajosa muitas das vezes e de maior responsabilidade. Eu não era somente um Freela. Ainda bem que eu estava com o Renato. Porque além de ser “o cara”, ele dividiu essa responsa comigo o tempo todo. Na real assumiu boa parte dela o tempo todo. Numa postura super guerreira e que demonstra como o Renato está maduro como empresário, produtor executivo e produtor de set. Em pensar que chegaram a questionar a presença dele nessa viagem. A meu ver impossível.
Mas toda essa minha babação com a equipe não fica apenas na área profissional. A convivência foi sem dúvida determinante. Parecíamos 4 muleques de 15 anos, falando merda e brincando o tempo todo. As vezes a Van ficavam em silêncio por alguns minutos, até que o Dico soltava: - O Branco, qual nome do filhote de Quero-Quero com Pica-Pau ? Pronto, a gargalhada tomava conta do espaço.
Nesse clima o Branco foi peça fundamental. Com humor e inteligência para discernir o que era uma brincadeira e com uma língua afiada, o Branco conquistou o carisma de todos rapidamente. Atencioso era o mais solidário aos problemas de cada um. Branco era o pai do grupo, ou melhor a mãezona. E um grupo com uma mãe dessa você já imagina a loucura.
Enfim, foram muitos dias, muitas histórias, que eu teria que ter feito como o Renato e escrever relatar o dia-a-dia, afinal é assim que funciona um blog né!?
Como não o fiz, me contento em deixar aqui esse relato e um grande abraço para galera, que agora com o JP, continua o trampo até alcançar Porto Alegre.
Depois de amanha embarco para Cuba acompanhando o PPP. Vai ser incrível, tenho certeza. Até porque também estarei super bem acompanhado. Vou eu, Fernanda, Marcus Vinícius e Ju Drumont.
Vou estar quase por inteiro no Festival, porque uma parte estará acompanhando o Blog do Renato (www.renatotmta.blogspot.com) e a outra parte estará que nem um louco tentando acompanhar a última rodada do Brasileirão que pode dar ao MENGÃO o hexacampeonato. É muita emoção para um fim de ano.